Dia de pedal duplo: mar e montanha. Amanheceu nublado e logo pensei: “bom dia para pedalar, vai estar fresco, com sorte ainda pego uma chuvinha”. Floresta com chuva é tudo de bom.
Mas por volta de 11h já estava sol. Só me restava encarar Rua Alice naquele maçarico. Comecei a subir e senti o quanto estava dolorida, presente dos exercícios com caneleiras. Estou na corrida contra o tempo: preciso virar ciclista pernocuda antes que ‘briochinhos’ piorem novamente.
Paineiras estava escaldante. Tanto, mas tanto, que tive miragens: a cada curva, achava que era a última. O asfalto fervia, eu derretia e saía fumacinha do chão.
Sorte que fui com a pochete-porta-garrafa que mammy trouxe pra mim na volta da viagem. Finalmente eles aceitaram que tem um ser ciclista na família e agora me presenteiam com toda a sorte de balacobacos esportivos.
Na entrada do Cristo, eu já havia bebido 1,5 litro de água. Não sei se foi o calor, mas as borboletas estavam muito assanhadas. E eu também: desde ontem em crise de abstinência de pedal.
Recusei por duas vezes a carona da Érica para o encontro sobre Vassouras na Cobal. Mesmo depois que começou o temporal. Queria pelo menos subir na Margot, mesmo sendo tão pertinho.
Mas com o duchão gelado e o fresquinho da Floresta me recompus. Às quartas Daiana está de folga e no Postinho apenas Ana Paula, ainda mancando. Falei de novo pra ela ir ao médico, antes que o pé caia.
Segui para a Vista e ao ver a bifurcação para São Conrado, pensei que era hora de revisitar Canoas. “Eu não sigo o fluxo, faço o caminho que me parecer mais justo”, canta uma das minhas músicas prediletas.
Então deixei pra lá o trajeto mecânico Paineiras - Alto da Boa Vista – Vista Chinesa. Por que não? Já estava adiando este dia há muito tempo: subir Canoas, para mim, é uma lembrança muito nebulosa.
A primeira vez foi com Margot estalando de nova... e o casamento em ruínas. Apenas na véspera a decisão de separar tinha sido tomada. E eu me debulhava em lágrimas já desde a Niemeyer, com um óculos escuros grandalhão tentando esconder olhos inchados.
Quando a cabeça não pensa em pedalar, o corpo e a bike padecem. Eu esmorecia a cada curva. Queria voltar, mas tive o apoio e a paciência irrestrita de ciclistas que hoje se tornaram amigos e referências para mim: Milgram, Edison, Mauricio, João Vicente, entre outros.
Ali ganhei duas amigas especiais: Rê e Érica. E o carinho em dobro de dois ciclistas iguaizinhos, os SGAs. Ganhei também um ‘vale-refeição japonês’ que ainda rende muito polvo no Álvaro´s. E lições como a chegada da ‘big wave’: chega de repente, agita o mar, faz muitos estragos mas depois serena.
Pois hoje então, ao ver a placa, pensei ser só descida. Apenas SUBI Canoas, nunca DESCI. Mas ainda havia uns trechos de subidas enjoadas, que penei para vencer, aos gritos do caseiro de uma das mansões: “Que disposição, hein colega!”.
Depois, o descidão, ah, o descidão. E aí o mar novamente: São Conrado e Niemeyer, praticamente uma reta. Como disse no início, mar e montanha.
Percurso: Praia de Copacabana, Praia de Botafogo, Paineiras, Alto da Boa Vista, Estrada das Canoas, Praia de São Conrado, Av. Niemeyer, Praia do Leblon, Praia de Ipanema, de volta a Copa - fim de linha.
Como o destino adora nos pregar peças, na ciclovia perto do Arpoador encontro meu ex-marido passando de bike. Botamos o papo em dia, matamos um pouquinho da saudade e combinamos de marcar um chope dia desses.
Mas sabe como é: fim-de-semana chega, os barzinhos lotam de gente normal, o relógio bate meia-noite, night apenas começando. Mas eu já virei abóbora há muito tempo, em casa, na minha cama fofa: acordo quando o galo canta, calando os vaga-lumes.
Agora nem penso que poderia ser diferente. Definitivamente, estou me acostumando comigo. E isso já não me assusta.
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Design.
Oi Thais, acompanho seu blog (às vezes) e sempre que ouço falar em Canoas sinto um frio na espinha. Subi uma vez, de Sao Conrado para a Gavea Pequena, quando eu estiver em forma quero subir de novo. Olha só, vi que você foi à Mangaratiba, queria ir também, mas tenho umas dúvidas. Posso te mandar um convite no orkut? Falamos por lá, pode ser?
ResponderExcluirObrigado!!
Um abraço,
--Alexandre
Inveja... da boa, claro! Um dia aprendo a andar decentemente de bicicleta. Eu sou aquela que mira uma linha reta e vai, e no que um obstáculo aparece ao lado do campo de visão, cai. Vexame!
ResponderExcluirBeijinhos
OI Thais, fiquei morrendo de inveja de seus passeios. Sou novo neste mundo das bikes, e após 25 anos fumando 3 maços por dia resolvi parar a 70 dias e comeceia pedalar. Este fim de semana fiz o circuito da subida da Vista-Mesa-Alto-Paineiras e volta. Me tornei um bike chato e não canso de apregoar as benesses deste meio tão simples e legal. Queria saber destes passeios noturnos e quem sabe me juntar avocês. jcscarpa@gmail.com . Meu nome é José Carlos abraços
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