terça-feira, fevereiro 10

COMO VIREI CICLISTA: parte I

Este não é um brogue de memórias. Muito menos um guia turístico. Talvez possa chamá-lo de ‘diário de bordo’ das minhas cicloviagens e roteiros ciclísticos pelo Rio de Janeiro, lugar onde nasci, cresci e pelo qual sou perdidamente apaixonada.

Em dezembro de 2007 comprei minha primeira bicicleta da fase adulta. Nunca tive muita afinidade com elas, fui uma criança desajeitada e que não gostava de esportes. Sempre arranjava uma desculpa para fugir das aulas de Educação Física, e os times de queimado disputavam para não ter que ficar com a Thais.

Mas essa magrela que me iniciou era uma Caloi Aluminum simplezinha de doer. Ficou encostada lá por um mês, até que meu ex-marido começasse a falar: “eu disse que você ia gastar dinheiro à toa”, “eu disse que essa bicicleta ia ficar aí sem uso”.



Agradeço a ele profundamente por ter me dito aquelas palavras. Afinal, tem incentivo maior do que alguém nos dizer que não somos capazes de fazer alguma coisa?

O dia 15 de janeiro de 2008 foi o primeiro dia da minha nova vida. Saí para pedalar e fiz um pacto comigo mesma de que aquilo seria um hábito quase diário. O sedentarismo estava me trazendo problemas. Além de estar com o peso um pouco acima do ideal, dores na lombar e no ciático me atormentavam.

Os primeiros dias foram cruéis. Para um ser acostumado à estagnação física como eu, pedalar 5 km era uma aventura! Os músculos da perna queimavam e eu parava a cada quilômetro ‘vencido’. Dar uma volta completa no Aterro do Flamengo parecia quase impossível, e o dia que consegui, voltei para casa radiante.



Assim fiquei por alguns meses, até finalzinho de agosto. Pedalando sozinha pelas ciclovias da Zona Sul do Rio de Janeiro. Às vezes me aventurava no trânsito, para pegar prática e me habituar a pedalar junto dos carros, coisa que me apavorava quando adolescente.

A essa altura eu estava desesperada por fazer amizades ciclísticas. Queria tirar dúvidas, trocar idéias, mas eu não conhecia mais ninguém que pedalasse. Algumas vezes cheguei a emparelhar ao lado de outros coleguinhas ciclistas, puxar conversa, afoita por fazer amizades. Mas eles não me deram muita bola não.



Do mundo real passei ao mundo virtual. Comecei a buscar na rede grupos de discussão de ciclismo e a pesquisar sobre o assunto. Descobri no Orkut uma comunidade que reunia ciclistas, clientes e funcionários da Kraft Bikes, no Rio.

Tomei uma decisão que mudaria minha vida: criei um novo tópico na comunidade, com a pergunta que já há algum tempo me martelava na cabeça: “Como entrar para a tribo do pedal?”.



Eu queria me sentir igual àquelas pessoas que falavam em ‘fazer um pedal’, que se auto-intitulavam ‘ciclistas’, percorriam distâncias que para mim na época pareciam absurdas, e falavam coisas como ‘não deixar cair o giro’.

Queria ser igual a eles! E a ‘acolhida’ (impossível chamar de outra forma), não poderia ter sido mais calorosa. Fui de fato ‘adotada’ por muitos ali.

Não posso esquecer um texto enorme, escrito por um deles, sobre a ‘Tribo do Pedal’, respondendo à minha pergunta, e que um dia reproduzo aqui, se o autor me permitir. Mas sempre um imprevisto me impedia de ir ao primeiro passeio com o grupo.

Outra coisa que me desanimava eram os horários. Como acordar às 6h de um sábado para pedalar? Achava tão absurdo aquilo, eu outrora boêmia, que dormia nos finais de semana até às 13h.



Mas havia também alguns noturnos nas quintas-feiras. O frio na barriga me segurava. Afinal, conseguiria eu acompanhar o ritmo do grupo? Não sabia. Mas uma noite, voltando do trabalho, jamais me esquecerei. Vejo aquele monte de luzinhas piscando, vindo em minha direção. O coração pulou e quase saiu da boca. Pensei: “São eles, são eles”.

Quando o grupo passou por mim, pedi: “Posso ir com vocês?”. Não me ouviram. E triste, cabisbaixa, segui meu caminho. Mas para minha surpresa, mais atrás vinha mais um grupinho de ciclistas, piscando, acesos, e dessa vez, consegui fazer a volta a tempo, emparelhar e gritar novamente, mais alto ainda: “Posso ir com vocês, posso?”.

“Claro, junte-se a nós”, uma voz me respondeu, e eu feliz da vida, segui com eles. Tímida, fiquei ali por último. Depois, parados em um sinal de trânsito, a voz se aproximou: “Você é a Thais, não é? Reconheci você pela tala no seu braço”.

Eu estava com o braço direito imobilizado, e havia ficado uma semana em casa, após ser atropelada voltando do trabalho de bicicleta, por um motorista que furou o sinal vermelho. Voltava às minhas atividades naquele dia, e em uma crise de abstinência de pedal, resolvi ir de magrela assim mesmo, braço ainda na tala.

Passei pelo ‘ritual de iniciação’, que eles chamam de batizado, que todos os ciclistas da comunidade passam. E conheci alguns que hoje são grandes amigos. Já neste primeiro dia, me davam toques ou dicas de como treinar para melhorar, de fazer subidas, e outras coisas mais.

Fiquei fascinada. Era tudo o que eu queria. Ampliar os horizontes ciclísticos, digamos assim.



CONTINUA DEPOIS...

2 comentários:

  1. otemo,
    espero pela continuacao...

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  2. Oi Thais! Tô adorando teu brogue! Me identifiquei demais com essa postagem. Minha bicicleta é uma Monarka Montain Bike e tenho ela há mais de 10 anos - ganhei de um ex-namorado para pedalar pela cidade, ir à faculdade, trabalhar, o que o fiz naquela época depois, ficou anos parada. Agorinha, em dezembro passado, voltei a dar umas pedaladas pela cidade (Porto Alegre) e fui indo mais longe, mais longe... no último domingo fiz 88Km com mais 2 amigos, fomos até a praia do Lami, uma praia do nosso "Rio" Guaíba. A empolgação que senti, foi a mesma que tu narras na postagem. Minha próxima meta é Itapuã, alguns Kms depois do Lami. Gostaria de fazer algumas viagens mas tenho um probleminha para dormir fora de casa (veja no meu blog www.adoteumfocinho-tiane.blogspot.com )mas um dia eu chego lá. Parabésn pelo brogue! Desculpa pelo longo comentário...me empolguei!Bjinhos! Tiane
    tbossle@terra.com.br

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