terça-feira, dezembro 30

ABDUZIDA POR SERES EXTRATERRESTRES


Estou sendo abduzida. Só retorno à Terra ano que vem, lá pelo dia 5. Vou pra outro planeta fazer coisas estranhas como andar sobre duas pernas, ingerir bebidas alcoólicas, dormir até tarde e usar roupas à paisana.

Nenhum extraterreno sentirá que ali circula uma terráquea. Até pretendo perder minhas marcas de guaxinim, camisa, bermuda e agora, joelheiras. Voltarei normal e tostada.

Não tentem contato: o disco voador possui bloqueio para sinal de celular, portanto não atenderei ninguém. Vou desligar por ora do mundo ciclístico, deixei água e ração suficiente para minha magrela não morrer de fome estes dias.

Qualquer coisa, mandem sinal de fumaça, é a única coisa que vou conseguir ver lá da janelinha da espaçonave. Feliz Ano Novo. E até ano que vem!

domingo, dezembro 28

ARRAIAL DO CABO: Praia do Figueira


O dia começou em cama estranha. Desacostumei a dormir em cama de solteiro e quase caí algumas vezes durante a noite. Mas um roxo a mais ou a menos não ia fazer a menor diferença...

Bike leve, finalmente. Alguns quilos a menos, portanto. Saímos rumo à praia das Dunas, praia de minha infância, seria bom rever aquela areia fina e branquinha. Mas de longe, claro, afinal ciclista não vai à praia, ciclista passa pela praia.

Revi o Hotel Acapulco, que eu ia quando pequena, há uns 20 anos atrás. A lembrança mais viva que tenho dessa época é a areia queimando os pés no trajeto das dunas até o mar.

Decidimos seguir para Arraial: eu, Ashbel e Miguel. A estradinha Cabo Frio – Arraial do Cabo é inspiradora. Fez tão bem aos olhos que nem sentimos o cansaço. Depois da entrada de Arraial, Miguel sugeriu a Praia do Figueira.

Sugestão acatada, tocamos em frente. Depois de três vilarejos, estrada de terra/areia. Alguns pequenos trechos não-pedaláveis. Mas valeu a pena. No destino final só o barulho do vento, do mar e da nossa respiração. Coisa de louco.

Na volta, o vento contra e um cachorro doido perto da cabine da Polícia.Tentou pegar Ashbel, mas me deu trégua. Odeio passar de bike por cachorros, péssimas experiências.

Mais a frente, uma velha conhecida bateu à porta: a lombra dos 60km. Mas desta vez, com 172km mal descansados da véspera. Tive que parar e comer Toblerone. É um bom consolo quando se está cansada e mal-humorada (quem me conhece sabe que quando canso fico com um humor terrível).

Nessa hora meu pneu arriou. Mas faltava pouco: 5 a 10km até a pousada. Resolvi tocar em frente. Banho, 10 minutos de cochilo numa cama fofa e rodoviária pra voltar pro Rio. Valeu a pena. Muito mesmo. Mal vejo a hora de repetir a dose, com mais tempo, pra esticar pra Búzios também. Está nos planos para ano que vem. E ano que vem já é daqui a alguns dias, ainda bem!

sábado, dezembro 27

CABO FRIO: via litoral



Um ‘3h15’ vermelho me chamava à realidade. O corpo se recusava a dormir. Desisti. A adrenalina era grande: era dia de Cabo Frio via Litoral.

Me lembrei duma época não muito distante em que não pedalava se estivesse chovendo. Ri sozinha, na rua, saindo de casa. Agradeci a chuva, ia tornar as coisas mais fáceis: pneu biscoito deslizando mais, a bike tava pesada, o sol castigaria na estrada.

Antes de entrar no túnel da Princesa Isabel, sou ‘saudada’ por dois caras voltando da night. “Que coragem hein, amiga!” Entrei no túnel e descobri que ainda existe muita gente bacana neste mundo: um caminhão de lixo resolve escoltar minha ‘retaguarda’ durante todo o túnel, já que ele estava me vendo, mas algum outro carro podia não ver. Já haviam me dito que do lixo podiam brotar flores. Eu vi.

O aterro estava particularmente macabro: praticamente nenhum carro passava, muita água na pista, bueiros abertos nos cantos, pouquíssima iluminação, um breu de arrepiar, e a chuva caía sem piedade.

Chego na Praça XV e vejo ao longe alguém embalado a vácuo: é Alexandre, que não é de açúcar. Seus amigos o deixaram só, poucos nos entendem, eles não gostam da chuva. Mais um pouco e chega Ashbel. Livre, leve e solto. Só com uma mochila nas costas, sem saber se vai ou se volta, espírito aventureiro, como tem que ser.

Ali descobri que não sabíamos o caminho. Ou melhor, eu sabia até Maricá. Mas Cabo Frio ainda fica muuuuuito depois de lá. Mas isso não seria problema.

O quarto intrépido nos encontraria do outro lado da poça. Partimos. Problemas com o carro, Miguel só nos alcançou depois de São Francisco, no alto daquele subidão. E fomos, dispostos a ir perguntando, desbravando o caminho, sem hora, sem pressa e sem nenhuma preocupação.

Apesar do peso, nunca pedalei tão leve em toda a minha vida! E eu, que estou acostumada a ir atrás de quem sabe o caminho, me vi tendo que lembrar de trajeto, refazer mapinhas mentais empoeirados na cabeça.

Em Itaipuaçu, veio a lama. Ficamos igual crianças: rindo à toa, felizes da vida, naquela chuvarada e no lamaçal, sujos de barro até a raiz dos cabelos. Seqüência sem fim de atoleiros, acho que foi a melhor parte da viagem. Maricá, pit stop pra comer bananas e sanduíches. As pessoas desejavam boa viagem, amistosas.

Veio a maldita ‘lombra’ dos 60km. Mais a frente descobrimos que era melhor não ir por Jaconé, barro não-pedalável. Decidimos subir a serrinha. Linda! Pausa para fotos e a chuva voltou.

De resto, ah, estradas lindas, o visual do litoral, cheiro de mato e de mar. Almoçamos numa galeteria, comida deliciosa com o melhor tempero do mundo, segundo Ashbel (a fome!). Mais eskibons e cafezinhos. Chegada em Cabo Frio por volta de 21h. Fomos direto pra rodoviária comprar passagem pra Alexandre, o único que retornaria.

Depois, pousada, que se mostrou uma grata surpresa. Atendimento cordial e lugar pra lavar as bikes. Ficaram brilhando, mas tanto, mas tanto, que se contássemos, que acreditaria que não fomos de busão???

Estávamos tão felizes que mal batemos algumas poucas fotos: o melhor de tudo ficaria guardado em local mais valioso, que não se apaga jamais.

Saldo final: 172 km de Copa, um dia inteiro (não contei as horas pois não tinha pressa), mar e montanha, e três novos e bons amigos. Precisa mais?

sexta-feira, dezembro 26

Banho de mar


Raro eu entrar no mar. Mesmo no verão. Mas hoje, com chuva, frio e escuro, saí de casa pra tomar um banho de mar.

Biquíni, camiseta, chinelo e toalha na mão. Eram 20h. Por que será que não estranhei os olhares de surpresa das pessoas?

A areia tava úmida. Chovia. Fui lavar a tristeza da alma. Deu certo. A água fria levou embora. E voltei pra casa terminar os preparativos da viagem, amanhã levanto cedo, tem Cabo Frio via litoral.

quinta-feira, dezembro 25

Dia Sábatico



Hoje me proibi de pedalar. Fiquei na cama até tarde, até que me acordassem: meu presente de Natal. Com certeza o celular ia tentar me chamar pra pedalar.

Proposta tentadora: ducha revigorante pós-natalina nas Paineiras. Mas não fui não.

Descansar os pulmões. A bronquite tem que ir embora até sábado, por que tem Cabo Frio via Litoral. Vou fazer coisas “normais”: acho que vou tomar um banho de mar, pintar as unhas, andar à paisana.

quarta-feira, dezembro 24

PEDAL DE NATAL: Fortaleza de Santa Cruz



Hoje os bebuns não me acordaram. 9h30 na Praça XV, rumo a Fortaleza de Santa Cruz. Mas não teve jeito: o corpo acordou sozinho às 7h, deve ser resultado do “adestramento” para os Pedais da Madruga.

Engraçado mas não estou melancólica, como sempre fico nos Natais. Deve ser efeito da Adega Pérola de ontem e do Pedal de Natal, do dia lindo que está lá fora e do Lee Morgan. Até um pouco animada para a comemoração natalina!

O mundo gira, gira e volta ao mesmo lugar. No caminho pras barcas, surpresa: encontro uma pessoa querida, que não via há algum tempo. Resolve nos acompanhar, está começando agora, subiu a Vista e disse que quase “pagou brake”. Minha contribuição de Natal: ensinei a ele onde fica a curva do Alívio.

Nas barcas, conheço Alexandre Valpassos. Ele está organizando o pedal para Cabo Frio no sábado mas quase ninguém o conhecia. Gente boa, acertamos detalhes da viagem. Decidi ir e ficar por lá.

Ritmo leve, dia lindo, e na volta William e um amigo juntou a nós. Em Copa, parei sozinha mesmo no Belmonte para almoçar, mas desisti: mammy quer jantar às 18h. Comi só um belisquete. Vou guardar barriga. Este ano prometo comer direito lá, já que quando vou, enrolo e não como quase nada. Chega de fazer desfeita, as pessoas mudam, certo?

Me prometi que ia tomar banho de mar. Mas não foi desta vez. Ainda ia correr o risco de perder minhas marcas de camisa, bermuda e agora, joelheiras. Ciclista sem marca de sol e sem cara de guaxinim? Assim minha reputação cai por terra.

Pensei em ir pra casa deles pedalando, já que hoje não é feriado e não posso entrar no metrô de magrela. Mas fico com medo da porra do pneu furar em plena Av. Brasil. Arrancar aquele Kenda sozinha não vai ser mole.

Preciso de pneus novos. E um bar end, antes que dêem sumiço no meu pré-histórico, um protótipo desenvolvido pela agência russa. Uma conspiração estava se formando hoje para dar cabo dele.

Pensando bem, vou a paisana mesmo. Vestida de gente normal e de transporte público. Não quero chocar demais minha família. Não hoje. Não no Natal.

terça-feira, dezembro 23

ADEGA PÉROLA: Programa off-pedal

Não gosto de Natal. Não quis dar “Feliz Natal” pra ninguém no trabalho. Só um abraço. E bom feriado.

Fico sentimental nesses dias. Por isso fui ver meus amigos poligonais antes do dia 24. Mas sem sentimentalismos nem melancolia. Só leveza, senso de impermanência e uma certa transitoriedade.

Presentes, gosto muito, quem não gosta? Mas presente mesmo é já começar o dia 24 na companhia deles. E na Adega Pérola. Um achado, “meio intelectual meio de esquerda”, como diria o Betão.

Até pensamos em fazer amizade com o garçom... Ah, se o Betão nos visse! Ele tinha o cabelo meio Wando, meio lambada assim, sabe? E nos serviu quitutes como a “punheta” de arenque, polvo, bolinho de bacalhau, salada de bacalhau, bolinho de aipim e batatinhas à la gareira. Esqueci algo?

Ah sim, o vinho branco. Na hora não demos nada por ele, mas se revelou uma bela surpresa! Com caneca ou sem caneca. Mas sem rebordosa.

Pra fechar nossa orgia gastronômica, pérolas de chocolate, ou melhor, o “caviar de chocolate”, com guerra de bolinhas e de colheres. E rumo para casa, que amanhã tem Pedal de Natal.

Homenagem aos Ciclistas da Madruga



Hoje desfalquei o Pedal da Madruga. Meus intrépidos companheiros subiram a Floresta pelas Paineiras. Eu não fui. Foram 10h de sono direto e reto, sem nem me mexer, até o corpo dizer que tava bom.

Mas como meu corpo estava aqui e minha mente lá, pedalando com eles, aproveito para fazer uma 'homenagem' aos que acordaram (ou nem dormiram) para começar o dia de forma tão deliciosa: esta foto belíssima, gentilmente cedida por Edison, o Letrado.

segunda-feira, dezembro 22

Pinto no Lixo...



Precisa explicar??? Olha minha cara de felicidade... Descida + névoa + chuva fina + Floresta = COMBINAÇÃO PERFEITA!

domingo, dezembro 21

BARRA DE GUARATIBA: Com frutos do mar na Tia Penha



Mais um dia começa com pneu arriado. Tô ficando com ódio desses slicks. Devem ser ainda ‘corpos estranhos’ encravados no pneu desde a Volta das Serras. Afinal, o mesmo pneu furou ontem e hoje. Já to sem câmara reserva. Vou deixar pra John Paul Jones me ajudar na cirurgia.

Estou ficando craque em encher pneu, mesmo com a ‘bombete’. Saí de casa fantasiada, eram umas 6h30, e pra variar os bebuns dos inferninhos olhando pra minha cara. E gritam: pedala!

Tá, pedalo. Hoje já estava claro e fui pela ciclovia mesmo, na Lagoa, encontrar o povo na Século XX. Este é o primeiro passeio que posto, tirando os pedais da madruga, que não contam, por que são... experimentais, chamemos assim .

Chegando lá, começa a operação arranca-Kenda. Minhas espátulas já foram pro beleléu. Mas eu disse: John Paul Jones já está craque. Rapidinho ele troca o primeiro. Fiquei tentando descobrir o furo da câmara.

Pneu dianteiro trocado, fui dar mais um gás no de trás. O ‘bingulim tava degolado’, ou sei lá como chama, e tivemos que trocar o traseiro também. Mas antes, remendar a câmara, pois já não havia mais reserva. Descobrimos também dois arames espetados no pneu dianteiro e arrancamos com a ‘rambete’.

Pausa para bainho de pia, lavar mãos e pernas. Depois, começamos a subir a Vista. O trajeto era Vista, Alto, Furnas, Barra e Guaratiba. Tínhamos um companheiro novo, um atrasildo e casal que não iria fazer todo o percurso.

A bronquite deu um pouquinho de trégua e subi melhor hoje. Engraçado, a cada subida o Alívio chega mais rápido. Acabei irritando (?) alguém por que duvidei que já fosse o Alívio. Mas tudo bem, passa.

Alto. Diana me mostrou, toda sorrisos: vai casar. Aliança dourada na mão direita. Quando? “Ah, não sei”, me respondeu. Mas que vai, vai né Diana? “Ah, vou sim!” Então tá falado. O frentista me contou também que a clientela tava decepcionada. “Os fãs não se conformam”, disse ele. Para rubor das maçãzinhas de Diana.

Lá, se juntam a nós mais dois companheiros. O grupo vai aumentando e animando. O tempo abre, nos saudando. Sol. Quem diria! Diana guardou os dois últimos pães de queijo para mim. Todo mundo queria, mas eram MEUS. Comi vorazmente. Sabe aquelas pessoas a quem não precisamos dizer nada, nem muito? Pois é. Mal me conhece, mas teve a sensibilidade que muitos ainda não tiveram comigo, nem na marra.

Relutei em dar ‘Feliz Natal’. Não gosto de Natal. Mas depois vi que seria difícil fazer Pedal da Madruga ainda antes do bendito dia. Dei uma abraço suado nela. Partimos.

Descemos por Furnas, com direito a esporro em JPJ (mania gêmea de descer com fone de ouvido), fila indiana e muito cuidado com os desníveis. Orla da Barra, se juntam a nós mais dois companheiros. Fernanda, surpresa gratíssima, em frente ao Windsor.

Pedal redondinho: poucas e eficientes paradas, para pipi stop e água. Seguimos para Grumari, e não vimos muito as subidas (subidas, que subidas?). Não tem jeito, esse visual sempre me inspira, é um dos meus preferidos.

Depois, Guaratiba. Ou melhor, Barra de Guaratiba. Não conhecia a praia, nem a Reserva da Marambaia (nem olhando de longe, é claro) e meus amigos me presentearam com esse novo visu no domingo. Fizeram questão de irmos até lá para que eu conhecesse o lugar. Emocionaram-me. E fizeram nascer um amarelo aqui dentro do meu vermelho.

Voltamos. Almoço na Tia Penha. Nossa garçonete preferida, Taisse, claro, nos atendeu. E nos mimou do jeitinho que ela sabe fazer. Até caixa de bombom ganhamos desta vez. Ela prometeu que em 2009 volta a pedalar. Vontade de comprar uma bike pra ela, sabe? Deixei meu cel com ela desta vez. Espero que ela se anime logo.

A volta teve surpresas, também deliciosas, mas não comestíveis. Sebastian nos convenceu a irmos pela Estrada da Grota Funda, que sobe. Grata surpresa, tirando a pirambeira, claro. Dá pra esquecer que estamos no Rio. Estradinha de terra, ladeada por casinhas e sítios, vegetação, ar de interior. Em alguns momentos dava até para esquecer também que subíamos uma quase-Tiririca.

Voltamos para a Avenida das Américas para descer, já que a Estrada da Grota Funda que desce não é estrada, nem rua, nem caminho, nem nada. Só mato com 2m de altura. Depois,Estrada do Pontal. Outra surpresa deliciosa. Mais uma estradinha com ar de cidade do interior, com sítios e casas. Um espetáculo. Vai ser meu caminho preferido de regresso agora. Quanto à quase-Tiririca, não sei, é um caso a se pensar. Vai depender do quanto de moqueca eu tiver comido no dia.

Macumba, Recreio. Parada para pipi stop e água, na padaria Local, a mesma da ida. Parada estratégica. Vou adotá-la como padrão daqui pra frente, o timing certo pra esvaziar a bexiga e abastecer água antes de encarar o vento contra e a trepidação da Reserva.

No início da Barra, já perto do nosso fim de linha (ou de ciclovia), paramos para nos despedir de Fernanda. Mais uma que me emocionou (assim vou acabar com minha fama de pessoa nada-fofa), e disse que o pedal conosco foi o presente de Natal dela este ano. Brotou mais amarelo lá dentro do meu vermelho...

Seguimos. Paradinha no Joá, para Toblerone e Skibon. São Conrado, Niemeyer redondinho, em fila, sem ultrapassagens, grupo coeso, como tem que ser. O trânsito tava engarrafado e um ônibus tentou nos fechar, escapamos bem, mas claro, desfiei todos os impropérios que conhecia para o motorista e a mãe dele. Se fosse Natal, talvez nem xingasse a véia. Mas como ainda não é...

Saldo final: pedal azeitadinho, sem nenhum incidente (nem pneu furado, tirando os meus dois antes de começar, ainda no ponto de partida) nem acidente, almoço nota dez, novas paisagens e caminhos, galera animada e companheira, e um novo integrante que disse a que veio. Gostei de ver. Chegamos de alma lavada. Só faltou um banho de mar.

Mas como eu já disse, ciclista não ‘vai à praia’. Ciclista ‘passa pela praia’.

sábado, dezembro 20

PEDAL DA MADRUGA: Vista Chinesa, Mesa do Imperador, Postinho do Alto


Hoje o dia começou com mais um PEDAL DA MADRUGA. Meu primeiro dia de plantão como repórter. Pra animar o sábado, nada melhor do que ver o nascer do sol lá do alto da Vista Chinesa.

Nascer, que nada. Tudo branco. Só névoa. Mal víamos uns aos outros. Neblina, chuva fina, animais da floresta, como nossa saltitante Gisele.

O despertar foi cedo: levantei com as ‘olas’ que os bebuns faziam nos inferninhos embaixo do meu prédio. Pneu arriado. Fui correndo (bom não dar bobeira em Copa às 4h da manhã) empurrando a magrela até o posto BR do Posto Seis. Parei ao lado de dois travestis que ainda estavam firmes e fortes (ops, não resisti ao trocadilho) fazendo seu ponto. Com o cafetão ao lado.

E eu, fantasiada de ciclista, de colete refletivo abóbora. Grupinho mais esdrúxulo, nós quatro. Bem que dizem que em Copa se vê de tudo.

Na General Osório, um motoqueiro foi me acompanhando até a Lagoa. Disse que já pedalou também, começamos a conversar, perguntou se eu ia viajar. Simpático ele. Foi-se. Eu segui.

Lagoa, Ipanema, nova parada. Pneu arriado novamente. Parei perto de uma casa noturna cheia de gente ‘normal’ saindo da night. Melhor, mais seguro. O resto tava muito vazio. Soltei a bomba e comecei a encher na mão mesmo.

Pedi a Santa Protetora das Ciclistas da Madruga para fazer meu pneu aguentar até a Século XX. Não deu certo. Talvez por que eu seja herege desde pequenininha. Parei de novo no posto perto do Clube do Flamengo. Dei um 'gás' nos dois pneus e segui. John Paul Jones estaria lá e ele já está craque em trocar meus pneus vagabundos com arame que só saem da roda na porrada.

Vou pedir ao Papai Noel um par novo. Será que cabe no saco?

Chegando lá, troca recorde em 15 minutos. Eu disse, o menino está ficando bom nisso.

Subimos. Parada básica no meio da subida, pra deixar o ar entrar nos brônquios constritos de tanta bronquite. No postinho, quase acordamos a Diana. Mostrei a ela que os gêmeos eram dois e não um só. Agora ela acredita em mim.

Volta, com direito a parada para conhecer a Gisele, nossa querida perereca que o Emílio conseguiu ver no meio da mata. Depois, mais uma parada, para nova sessão de fotos dos capacetes.

Depois, trabalho. Pão de queijo quentinho do Talho Capixaba. Meu amigo vendedor (que não sei o nome) estranhou minha presença. Expliquei que era meu 1º plantão.

Fiquei enlameada, molhada e fedida até às 9h30. A academia não abre antes disso, por que é sábado, a professora me explicou. E que tem ser sábado? Eu acordei às 3h30...

Eu hein, vai entender, que gente mais doida.

quarta-feira, dezembro 17

VOLTA DAS SERRAS: Petropólis, Itaipava, Terê, Friburgo


Aventura inesquecível, minha primeira cicloviagem (de muitas espero) e vou explicar por quê.

As subidas em especial me dão PÂNICO. Não sei ainda o motivo, talvez Freud explique. Mas o fato é que fiquei muito nervosa a semana inteira só de pensar nesta viagem, que seria um desafio especial para mim. O joelho machucado (os dois doendo, mas o esquerdo estava de matar...) me deixou ainda mais insegura.

Crianças, não tentem fazer isso em casa: tomei remedinhoso (drogas pesaaaaadas) a semana inteira só pra poder ir na viagem. Ihhh, nem adianta falar, não vou ouvir: “não faça isso, etc etc etc”, sou taurina e teimosa igual à peste.

Mas enfim, na véspera à noite descobri que todos iam de pneu biscoito (e só eu de slick), que meu pneu tava arriado e que havia perdido meu ciclo. Fiquei mais insegura ainda!!! Conclusão: no sábado eu tava um pilha, à beira de um ataque de nervos, achando que não a chegar nem a Petrópolis...

Encontrar a galera foi um alívio. As palhaçadas do trem, com direito ao "coraçãozinho" do Emilio, a pole dance do Edison, as fotos tresloucadas do Bob Pai e a ansiedade pela conchinha da noite (piada interna!) foram me deixando menos nervosa.

Tivemos que amarrar as bikes no trem, pois a cada freada elas iam longe!!! A Central do Brasil foi uma aventura: éramos olhados como ETs querendo fazer contato, e assim foi durante todo o finde, por onde passávamos.

Chegando a Saracuruna, dúvidas quanto ao percurso. Fomos "saudados" por uma senhorinha simples e extremamente simpática, que falou que "aquela criança" (eeeeuuu!!!!) não ia conseguir chegar a Friburgo não!!!

Depois, em Raiz da Serra, mais um "vidente", no boteco que paramos, falou também que "aquela senhora", apontando pra Denise, não ia agüentar subir não... Há, mal sabia ele. Rimos todos da sua cara e ele não entendeu bulhufas.

A subida começou, paralelepípedos intermináveis. Com parada pra banana em frente a um terreiro. Vencida esta parte do trajeto, já veio um certo alívio: passada a temida Serra Velha de Petrópolis, que eu tava demonizando, e depois vi que não era nada demais...

Bem, parada pra almoço (mais um lanche do que almoço) em Petrópolis e fomos pra Itaipava. Lá, Carmelo se despediu. Pena. Ficamos preocupados com sua volta, que depois sabemos que teve alguns percalços. Paramos no shopping Vilarejo para comprar água, banheiro e ver loja de bike. A essa altura eu mal conseguia andar!!! Pra pedalar não tanto, mas pra andar... eu me arrastava, o joelho doía MUUUITO.

E aí veio a serra de Terê. O pessoal começou a imprimir um ritmo que eu achei que não ia conseguir acompanhar, e o joelho doíiiiia. Fiquei MEGA nervosa. Pensei: já era, vou ficar por aqui, tudo perdido. Roger ia no final fazendo a escolta e dando uns toques... me orientando com as marchas e o giro. Mal sabia ele, tadinho (Roger, valeeeeu pela força, viu? não repara no que vou dizer não!!!) que me deixou mais nervosa ainda! Fiquei com medo de ficar pra trás, de não conseguir acompanhar o grupo.

E depois só lembro de subir subir subir. Só subidas. Nunca que o raio do topo chegava. E eu pensando: vão ser 30km de subidas, eu mal agüento subir a Vista Chinesa, já era.

Bem, fica aí a lição: psicológico é tuuuuudo. Quando sua cabeça vai mal, não consegue nem pedalar direito! Foi isso que aconteceu comigo: apesar de eu não estar 100% fisicamente, o que mais pesou foi a cuca.

E foi anoitecendo. E foi esfriando. E estávamos encharcados. E nada de parar de subir. E nada de chegar o topo. E no meio daquele breu, de repente me senti sufocando: um bolo na garganta não me deixava respirar... E fiquei entalada. Virei pro Emílio e falei: preciso parar.

Não havia a mínima luz, não conseguíamos enxergar nada a frente, não passava um carro pra iluminar o caminho, só mato, névoa, frio e chuva. Paramos, pois eu já devia estar roxa de sufocada. E cansada, muito cansada. E pensando: não vou conseguir, não agüento mais subir nada... Não sei quanto falta, ninguém sabia, pois não dava pra ver!!! E aí me desesperei: entrei em prantos, soluçava, lágrimas aos borbotões. Botei pra fora todo o choro que estava engasgado desde manhã cedo. E aí voltei a respirar...

E o grupo a minha volta. Não precisavam falar muito, nem falaram... bastava estarem ali comigo. Às vezes o silêncio diz mais que mil palavras, certo?

O frio foi batendo, a fome tava negra e começamos a buscar o que cada um tinha pra comer. Abrimos biscoito, um pacote de tacos borrachudos que devoramos com sal que a Denise providencialmente levara. E nos animamos a continuar.

Pareceu bruxaria: voltamos a pedalar e a subida ACABOU!!! Havíamos chegado ao topo da serra. E começamos a descer. Nem acreditamos. Aí foi a vez da Rê se emocionar e deixar as lágrimas rolarem. Peço licença ao amigo Emílio pra reproduzir algumas palavras dele sobre esses momentos:

"No topo da montanha e naquela escuridão infinita... Jamais me esquecerei. Foi ali, através de tanta emoção, que a pequena Thais, mesmo sem saber, fez brotar lá no fundo dos oito corações intrépidos um raro sentimento: a união."

"E com essas vivências eu felizmente percebo, a cada dia, que demonizar o nosso próprio medo é reprimir a coragem. Portanto, não tenhamos receio de sentir nada, ou tudo. Mesmo aquelas coisas que por conta da bagagem moral, insistimos em rotular como fraquezas."

"E finalmente, sob a lua mágica daquela noite, quando por um breve instante as lágrimas de pura felicidade da Renata tocaram lá no fundo do meu peito, percebi através daquele intrépido momento, doce e sensível, o quanto amamos o ciclismo e somos especiais uns para os outros..."

A descida foi cruel também, mas um alívio: muito frio, não sentíamos mais as mãos, “congeladas” nos freios, a pista molhada e perigosa, o breu. E pra mim a dor, claro. As descidas são cruéis com meu joelho. Mas era hora de superar a dor. Todo o finde foi pra mim um exercício de superação, sem dúvida. De conhecer e reconhecer meus próprios limites...

A cidade não chegava: parecia que quanto mais descíamos, mais as luzes de Terê se afastavam de nós!!! Mas uma hora começaram os sinais de "civilização": uma luzinha ali, um hotelzinho acolá, e bem depois chegamos. Fomos direto parar em uma padaria, beber algo quente e ingerir algo “comível”. Lá, fomos recebidos por uma meninota cativante, que ficou fascinada com as bikes, e com a bagunça. Assim como um casal simpaticíssimo, que ficou admiradíssimo com nossa aventura, e fez questão de nos abraçar e beijar mesmo estando todos molhados e fedendo!!!

Depois, nos dividimos: metade pro Hotel Teresópolis, metade pra casa do Felipe. Pra mim, ali, estava tudo acabado. Não teria condições de continuar, só me restava acordar e pegar um ônibus pro Rio. Dormimos (com fooooome) por que o cansaço era mais forte.

A noite foi difícil: mal conseguia me mexer, foi uma gemeção só, muita dor e fisgadas que me acordavam. Pesadelos de eu voltando sozinha e me despedindo do grupo, na rodoviária, vendo-os seguir viagem. A manhã veio com juntas enrijecidas, cansaço, foooooome, dor e frustração. Me preparei psicologicamente pra voltar.

Mas ao ver os companheiros se arrumando pra partir, tomei um decisão difícil, pois não queria penalizar o grupo nem comprometer a viagem deles: ia seguir viagem, coloquei os tensores, apertei bem a joelheira, tomei analgésicos, disfarcei a dificuldade pra andar e fui-me embora. Tava disposta a suportar a dor, já que eles me disseram que o trajeto até Friburgo seria bem menos puxado que o da véspera. Tava determinada. Só não chegaria se a perna caísse. E aí com a certeza de que iria CHEGAR, tudo foi tão mais fácil!!!

O sangue foi esquentando e a dor diminuindo, fiquei mais tranqüila, até por que o trajeto era alternado, entre subidas e descidas. E nas descidas me garanto: sou lenta pra subir, mas desço rápido e recupero o ritmo. Além disso, estava mais segura: havia completado coisa MUUUUUITO pior na véspera, subidinhas com descidas então, seria água com açúcar. E foi mesmo! Uma delicia o circuito Terê-Friburgo, paisagens arrebatadoras, plantações de ervas, uma coisa de louco! Cansaço? Nem dava pra sentir, o visual nos extasiava. A chuva deu uma trégua durante toda a manhã, pra voltar a tarde. Quando vi a placa Friburgo 3 km, as lágrimas vieram. Afinal, dever cumprido. Pra mim, uma grande vitória pessoal, num momento da minha vida que passei por situações e decisoes difíceis e desafiadoras.

Agora, esta semana, vou sossegar. Cuidar dos joelhos, fazer a ressonância, e descansar. Chega de estripulias. Por enquanto, é claro, até o próximo pedal do finde.

Um grupo maravilhoso. Só tenho a agradecer a todos: Denise, que teve a excelente idéia da viagem; Bob Pai, pelo bom humor e incentivo a todos; Emílio, pela amizade e companhia eternamente agradável; Roger, pelas dicas experientes do grande ciclista que é; Rê, pela animação e cumplicidade; Edison, pelas brincadeiras que acabam com qualquer mau humor e desfazem a tensão; Felipe, pela companhia de ex-morador ilustre da Serra; Carmelo, que vai ficar devendo nos acompanhar até o final na próxima aventura.

terça-feira, dezembro 16

quinta-feira, dezembro 11

POLVO À PROVENÇAL: programa off-pedal



O Polvo à Provençal, finalmente desengavetado, mostrou-se à altura de toda a expectativa que nosso letrado companheiro fez despertar em nós.

Bem, abaixo, pequeno boletim dos acontecimentos (não por ordem cronológica, ou melhor, por ordem nenhuma) para atualizar os amiguinhos que não foram "brincar com os bichinhos de tentáculos":

- Chegada do nosso amigo letrado por passagem subterrânea, que conecta sua casa direto ao salão do Álvaro's, deixando eu e Mestre Gafanhoto meia hora do lado de fora do restaurante esperando por ele.

- Enquanto esperávamos o ditocujo, traçamos planos mirabolantes para des-domesticar uma pequena intrépida-dorminhoca que anda nos desfalcando muito ultimamente. Chegamos a conclusão que teremos que adotar ações muito pouco ortodoxas.

- Vinho, muito vinho branco! E para acompanhar, as meias do Edison sujas há uma semana sem lavar, ooops, digo, um generoso pedaço de Roquefort que foi vorazmente destruído pelos dois.

- Emílio, com seu poder de persuasão, convenceu Rê a juntar-se a nós, por meio de seu celular promíscuo (que passava de mão em mão).

- Rê faz sua entrada triunfal no salão do restaurante. Mas antes, Emílio com seus olhos pidões, vigiava ansiosamente a porta para ser o primeiro a vislumbrar tal momento. Tanto, mas tanto, que despertou paixões avassaladoras na mesa ao lado, habitada por uma "formosa" senhora loura.

- Cenas rasgadas de ciúmes protagonizadas por nossos dois amigos ao tocar o celular da Rê e ser um amigo de pedal não-poligonal. A bendita ligação, atendida por mim, foi um espetáculo à parte: os dois "meninos" desfiaram toda a sorte de imprompérios (escrevi certo??? Tio Bicudo, colige eu naum, eu falo elado desde cliansinha) enquanto falávamos com o ditocujo ciclista, que até agora não sabemos se ouviu ou não, em meio a gargalhadas estrondosas abafadas e muitas, muitas pragas rogadas. Coitado deste, será que ligará de novo um dia?

- O polvo, finalmente: um espetáculo à parte, indescritível, o cheiro, o que era aquele cheiro? Ai ai ai, acho que vou ter que ir lá hoje de novo, comer maaaaais polvo. Vocês sabem né? Sou uma pessoa faminta.

- Um arroubo de fofura protagonizado pela intrépida menos fofa do polígono, que levou florzinhas para todos que compareceram (quem não foi, ficou sem), esquecidas por Rê e Emílio na sede dos Intrépidos S.A. Onde, a propósito, foi o fim de noite (claro, poderia ser em outro lugar???) com direito a mais vinho, muita DR, Lee Morgan e Cássia Eller, e os dois me colocando pra dormir antes de ir embora. Próxima vez, vão ter que me contar historinha!!!

- E um desfalque de última hora: nosso John Paul Jones sumiu do mapa, foi tragado por terras argentinas e não deu as caras ao nosso evento! Ai ai ai, teremos que tomar mais medidas pouco ortodoxas em relação a esta nova situação?

- Taças: todas inteiras, até o presente momento (10h20, dia 11/12) não quebrei nenhuma. Agradecimentos aos garçons do Àlvaro's, que gentilmente nos "emprestaram" taças para que um dia "devolvêssemos". "Pai, eles não sabem o que fazem". Prometo hoje à noite, antes de dormir, fazer a oração da Santa Protetora das Quebradeiras de Copos, para livrar-me do Mal, Amém.

QUEM É A MULHER DE CICLOS?

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