sábado, dezembro 27

CABO FRIO: via litoral



Um ‘3h15’ vermelho me chamava à realidade. O corpo se recusava a dormir. Desisti. A adrenalina era grande: era dia de Cabo Frio via Litoral.

Me lembrei duma época não muito distante em que não pedalava se estivesse chovendo. Ri sozinha, na rua, saindo de casa. Agradeci a chuva, ia tornar as coisas mais fáceis: pneu biscoito deslizando mais, a bike tava pesada, o sol castigaria na estrada.

Antes de entrar no túnel da Princesa Isabel, sou ‘saudada’ por dois caras voltando da night. “Que coragem hein, amiga!” Entrei no túnel e descobri que ainda existe muita gente bacana neste mundo: um caminhão de lixo resolve escoltar minha ‘retaguarda’ durante todo o túnel, já que ele estava me vendo, mas algum outro carro podia não ver. Já haviam me dito que do lixo podiam brotar flores. Eu vi.

O aterro estava particularmente macabro: praticamente nenhum carro passava, muita água na pista, bueiros abertos nos cantos, pouquíssima iluminação, um breu de arrepiar, e a chuva caía sem piedade.

Chego na Praça XV e vejo ao longe alguém embalado a vácuo: é Alexandre, que não é de açúcar. Seus amigos o deixaram só, poucos nos entendem, eles não gostam da chuva. Mais um pouco e chega Ashbel. Livre, leve e solto. Só com uma mochila nas costas, sem saber se vai ou se volta, espírito aventureiro, como tem que ser.

Ali descobri que não sabíamos o caminho. Ou melhor, eu sabia até Maricá. Mas Cabo Frio ainda fica muuuuuito depois de lá. Mas isso não seria problema.

O quarto intrépido nos encontraria do outro lado da poça. Partimos. Problemas com o carro, Miguel só nos alcançou depois de São Francisco, no alto daquele subidão. E fomos, dispostos a ir perguntando, desbravando o caminho, sem hora, sem pressa e sem nenhuma preocupação.

Apesar do peso, nunca pedalei tão leve em toda a minha vida! E eu, que estou acostumada a ir atrás de quem sabe o caminho, me vi tendo que lembrar de trajeto, refazer mapinhas mentais empoeirados na cabeça.

Em Itaipuaçu, veio a lama. Ficamos igual crianças: rindo à toa, felizes da vida, naquela chuvarada e no lamaçal, sujos de barro até a raiz dos cabelos. Seqüência sem fim de atoleiros, acho que foi a melhor parte da viagem. Maricá, pit stop pra comer bananas e sanduíches. As pessoas desejavam boa viagem, amistosas.

Veio a maldita ‘lombra’ dos 60km. Mais a frente descobrimos que era melhor não ir por Jaconé, barro não-pedalável. Decidimos subir a serrinha. Linda! Pausa para fotos e a chuva voltou.

De resto, ah, estradas lindas, o visual do litoral, cheiro de mato e de mar. Almoçamos numa galeteria, comida deliciosa com o melhor tempero do mundo, segundo Ashbel (a fome!). Mais eskibons e cafezinhos. Chegada em Cabo Frio por volta de 21h. Fomos direto pra rodoviária comprar passagem pra Alexandre, o único que retornaria.

Depois, pousada, que se mostrou uma grata surpresa. Atendimento cordial e lugar pra lavar as bikes. Ficaram brilhando, mas tanto, mas tanto, que se contássemos, que acreditaria que não fomos de busão???

Estávamos tão felizes que mal batemos algumas poucas fotos: o melhor de tudo ficaria guardado em local mais valioso, que não se apaga jamais.

Saldo final: 172 km de Copa, um dia inteiro (não contei as horas pois não tinha pressa), mar e montanha, e três novos e bons amigos. Precisa mais?

4 comentários:

  1. Thaisinha do meu coração, palavras são insuficientes para expressar minha gratidão por ter partilhado com vc toda minha alegria e meu amor, obrigado tb por vc partilhar comigo toda sua alegria a seu amor tb. Este passeio foi uma experiencia incrível de respeito, solidariedade,carinho, beleza, harmonia e sintonia. Agora faço minha as suas palavras: "Saldo final: 172 km de Copa, um dia inteiro (não contei as horas pois não tinha pressa), mar e montanha, e três novos e bons amigos. Precisa mais?"
    Ashbel.

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  2. Thaís,
    Ficou muito bonito o relato. Seu exemplo, testemunho, vai motivar muita gente, com certeza.
    Que venham mais e mais pedais e desafios superados.
    bjs
    Henrique Ludgero

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  3. Lindo, Tata. Incrível como você ainda consegue chegar tão cheia de vida na segunda-feira...ou talvez essa seja exatamente a razão de você chegar assim aqui. Bons ventos e descobertas pra você e lindas pedaladas em 2009!

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  4. Valeu pelas palavras. Expressaram a plenitude do passeio. Espero que outras pessoas possam agora serem encorajadas e não desistir diante de alguns empecílios. A chuva fez a diferença. Clima fresco e agradável apesar do mal tempo. Me dispeço aqui já no aguardo do próximo rolé.
    Fuuuuuuuuuuuuuuui.

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