sábado, janeiro 31

1º rolé com Briggitte

Levei Briggitte para passear e ela se comportou muito bem. Atraiu alguns olhares de esguelha e muitos diretos mesmo, mas fazer o quê né? Bonita do jeito que é, tem que se acostumar com o sucesso e o assédio.

Programa melhor para testar sua versatilidade, impossível: fomos ao Teatro do Leblon, nós duas. Em plena sexta à noite, a Conde de Bernadotte estava lotada de pessoas bonitas e cheirosas e o teatro bombava.

Fui ver a peça "Ensina-me a viver", com Gloria Menezes e Arlindo Lopes. A galeria recebia muitos globais. Entrei com Briggitte e tudo pela galeria adentro. Fiquei na fila com ela do meu lado, comportada, apesar de algumas pessoas ficarem olhando esquisito e fazendo cara feia.



Fiquei bolada achando que alguém ia reclamar de eu estar ali com ela. Mas que nada! Charmosa como é, Briggitte ganhou a simpatia dos seguranças, que queriam logo arrumar um cantinho pra ela dentro do teatro e carregá-la (acho que eles estavam curiosos pra vê-la de pertinho).

Ela ficou dobradinha num canto perto da sala, enquanto eu ia ver a peça. Me atrapalhei um pouquinho para desmontá-la, afinal era a primeira vez.

Na peça, Gloria fala que as pessoas se enganam tanto, achando que tudo são delas, que são donas de alguma coisa. As coisas simplesmente surgem e não podemos dar as costas a elas. Dizer 'coisinhas vão embora' e deixá-las desamparadas.

E que ninguém é 'dono' de nada, apenas 'cuidamos' das coisas. Só isso. E foi assim com Briggitte. Ela estava tão tristinha ali, naquela loja, pestanas baixas, me pediu (eu juro que ouvi) pra eu levá-la comigo. Para levá-la para passear, e ter paciência, eu que gosto de velocidade, pois ela anda devagarinho...

E foi assim que a adotei. Foi paixão à primeira vista. Amei-a profundamente desde o primeiro momento em que a vi e ai de quem rir dela, pobrezinha, tão pequenina.

Gaúcho mal acreditou quando me viu, gabola que só, empinada com Briggitte. Ria à beça, mas foi logo dar uma voltinha nela. Mestre Gafanhoto levou um susto, e disse que nós duas passeando no Leblon parecíamos saídas de um comercial de margarina, aqueles com famílias felizes.

Mas vamos ao lado prático: Briggitte cabe em qualquer lugar, pois onde não houver onde pará-la, é só desmontar, como no teatro. Ela cabe inteirinha no elevador do meu prédio, sem eu precisar levantá-la. É leve, compacta. E possui bagageiro, no qual meu alforje da Deuter coube como uma luva. Além disso, custa muuuuuito menos que a Margot.

Por isso, para os meus pequenos deslocamentos urbanos, atende muito bem. E além de tudo, ela é liiiiiiiiiiiiiiiiiinda.

sexta-feira, janeiro 30

A família cresceu: Margot ganhou uma irmã



Não resisti. Hoje na barulhenta visita à Kraft na qual encontrei The Monster, Milgram, Bicudo Limão, Alberto, Gaúcho, Alex, e Christiano (que não suportou nossa ausência e apareceu lá depois de ouvir a algazarra pelo telefone), acabei adotando uma irmã para Margot.

Ela tava lá, tadinha, azulzinha, tristinha, tristinha, sem ninguém pra levá-la pra passear. Imediatamente já me vi dando voltinhas com ela por aí, pequenina. E mentalizei seu nome: Briggitte.

Combina com Margot, vocês não acham? Mas Briggitte é muito mais pueril, e faz todo o sentido. Ela é apenas para meus deslocamentos urbanos de poucos quilômetros. Margot é que é nome meio de puta velha, rodada, que vive por aí... Guenta qualquer parada, e se bater ela gama.

Bem, a família está crescendo. É bom que assim não me sinto só. Já tenho muitas 'crianças' pra cuidar: Alfredinho e seu irmão mais novo Norberto, e Margot com sua sister Briggitte. Um dia tiro foto da família completa. Prometo. Devo, não pago, e nego enquanto puder...

quinta-feira, janeiro 29

Hoje me perguntaram: "O que é viver para você?"



Para mim, que sou uma mulher de ciclos, viver é descobrir que as mais belas paisagens só são vistas sobre duas rodas, é sentir o vento no rosto, é cantar, rir e chorar sem parar de pedalar, sem desmontar e sem deixar cair o giro.

Viver, para mim, é ter o ciclismo por paixão e o jornalismo por profissão, é viver em meio a graxa, pautas, joelhos ralados, jornais, pedais e quilômetros, muitos quilômetros. É descobrir lugares deslumbrantes, tão 'perto', mas antes tão distantes.

Viver, para mim, é colocar a mochila nas costas, montar na minha intrépida de duas rodas e conquistar a liberdade que sempre quis, por que liberdade concedida não me interessa. Viver é não seguir cartilha, não optar pelo usual e se 'descontruir' a cada dia.

Viver para mim é pedalar, por que o ciclismo me inspira a cada dia ir além. Viver é admirar paisagens fascinantes, conhecer pessoas arrebatadoras e descobrir sentimentos tão grandes, mas tão grandes, que mal cabem no peito.

quarta-feira, janeiro 28

PEDAL SOLO: Paineiras, Bom Retiro, Vista Chinesa



Doutor disse que tenho que virar uma ciclista pernocuda para compensar as ‘patas de ganso’ dos meus joelhos. Alfredinho vai ficar com ciúmes quando souber que tenho ‘patas de ganso’ e não patas de pato.

Doutor também mandou botar o vasto medial para trabalhar, e ‘pegar mais leve’ no pedal. Como não sou muito de seguir conselhos e costumo fazer o que bem entender, vou pular a parte chata, de ‘pegar leve’ no pedal. Eu hein, ‘pegar leve’, onde já se viu...



Então hoje às 6h fui tirar o vasto-qualquer-coisa da preguiça com alguns quilômetros de subidas. Itinerário: Copa, Lagoa, Botafogo, Laranjeiras, Rua Alice, Paineiras (pausa para duchão), Alto da Boa Vista (pausa para pão de queijo), Floresta da Tijuca, Bom Retiro, Alto da Boa Vista de novo, Mesa do Imperador, Vista Chinesa, Horto, Jardim Botânico, Lagoa, Leblon, Ipanema e de volta a Copa.

Na Rua Alice, um ciclista solitário se esfalfava pedalando em giro alto. Passei por ele batida e mal deu tempo para um ‘bom dia’ apressado. Fiquei toda orgulhosa: em 14 minutos já estava nos trilhos, nunca subi tão rápido e tão bem. Só fui usar a coroinha já perto do Bom Retiro. Sinal de que os treininhos de subidas estão fazendo a diferença.



Paineiras acabou rápido demais! Logo depois do duchão, quase atropelo uma GALINHA. Fiquei tão estupefata que nem saquei a câmera para provar que na Floresta da Tijuca também tem galinhas...

Escaldada pelo susto com a penosa, consegui tirar uma foto a tempo do elefante que cruzou meu caminho dentro da Floresta da Tijuca, já perto do Bom Retiro.



Aliás, levei a câmera nesse pedal solo, coisa que nunca faço, e fiz um compulsivo registro fotográfico de todo o trajeto. E narcisístico também, muitas fotos minhas.



Levei a câmera achando que ia tirar fotos de Daiana mas chegando lá me lembrei que hoje seria a folga dela. Tava só Ana Paula com os pães de queijo quentinhos, e um mendigo-meio-biruta-meio-surdo-mudo dizendo (ou gesticulando) que eu tava ficando forte de tanto pedalar. Doutor não concorda com ele, doutor disse: “Você não é tão forte assim não, você é fraca, ‘pega leve’...”



Na Floresta, tentei chegar ao Mirante do Excelsior. Depois de uns 2 km de estradinha que já estava mais para trilha, bolei. Resolvi voltar. Fui conversar com o guardinha, ele me disse que são 4 km a partir da estrada principal. E desaconselhou terminantemente ciclistas intrépidas e solitárias de cumprir este percurso. “Ali dá acesso ao Morro do Borel”, disse ele. “Por isso resolvemos bloquear o acesso a veículos, é perigoso”.

Muito bem sacado. Em áreas de risco e sujeitas à violência urbana, o poder público, ao invés de reforçar o policiamento, veta o direito de ir e vir do cidadão, para ‘protegê-lo’. Genial. Mais simples e muito mais barato, não é mesmo?





Saída pelo Açude da Solidão, e na estrada um esquilo cruza o caminho. De novo não saquei a câmera a tempo, mal vi seu rabo listradinho preto e branco. Um pouco antes de chegar a Mesa do Imperador, um motorista perdido encosta e quer saber como chegar ao Horto. Mas ele não sabe que eu estou numa subida íngreme, sem fôlego e sua proximidade quase me desequilibra. Ai, só quem é ciclista que sabe.



Descendo a Vista, Mestre Gafanhoto liga e quer saber o que doutor falou dos briochinhos, digo, dos meus joelhos. Contei a ele a história das patas dos bípedes, e como fiquei aliviada por não ser nada mais sério, apesar do desconforto das patelas frouxas.

Na ciclovia em Ipa, um presente: Kenda traseiro arriado. Ir para casa ou não, eis a questão. Parei no Jardim de Alah para dar uma bombada no pneu com minha ‘bombete’. Resolvi ir para a Kraft do Leblon, perto, e terceirizar a operação arranca-Kenda. Não adiantaria chegar em casa, eu não conseguiria trocar o maldito pneu sozinha.

Também cheguei na loja já sem freio traseiro. Foi pro espaço, em dez dias apenas. Falei com Alex que desse jeito, vou ter que trocar freio toda semana! “Também, né Thais, com o tanto que você roda por aí”. Não pude discordar.

Voltei pra casa com meus biscoitos na mão, que estavam na loja há muitos dias. Com aquele modelito ciclista-suja-e-suada que conheço tão bem, e desperta um misto de curiosidade e nojinho nas pessoas ‘normais’. Suja e suada mas tão leeeeeeeeeve...

segunda-feira, janeiro 26

Discutindo a Relação Ciclística (DRC)



Minha magrela queria conversar. Fazer uma DRC, só nós duas. Estávamos precisando sair sozinhas, ela tinha muitas coisas pra me dizer, precisava de um tempo só comigo.



Levei-a para as Paineiras logo cedinho, a única subida que ela gosta de fazer. Chovia fino em Copa ao mesmo tempo que o sol, laranjão, esforçava-se pra nascer por trás de uma nuvem gorducha.

Achamos que encontraríamos muitos coleguinhas ciclistas no caminho, mas nada. Um único ciclista também solitário passou por nós duas logo no início da rua Alice, e depois, mais ninguém. Esse tinha um suporte estranho para caramanholas, ficava no guidão, com uma de cada lado. Bizarro.

Paineiras surpreendentemente deserta de ciclistas. A pista era só nossa. Poucos carros também. Tanto que, quando a bexiga apertou, não tive problema nenhum em ir ali no matinho mesmo, sem cerimônia. Já descendo a Vista cruzei com mais uns dois. E só. Parece que nas segundas chuvosas o povo fica na toca mesmo.

Chegando no Alto, Daiana me recebe com uma cesta de pães de queijo fumegantes. Quase queimo a boca. Lá estava também Zé, que não reconheci de imediato, afinal ele estava à paisana, igual gente normal, indo para o trabalho.



E lá Margot desembestou a tagarelar, parecia a dona. Falou como ela andava maltratada, rangendo, com marchas pulando. Me disse que estava sempre suja, câmbio cheia de resíduo, com barro ainda da Volta das Serras, em novembro.



E que se continuasse assim, ela não teria disposição para me acompanhar por muito mais tempo, como eram nossos planos. Temos uma relação estável e duradoura, não até que a morte nos separe, pois o casamento nos moldes tradicionais é uma instituição falida, mas ‘infinito enquanto dure’ sim.

Apesar de que tenho pensado muito em rever esse relacionamento monogâmico. Expandir para um triângulo-ciclístico-amoroso. Ando flertando por aí com outras, mas Margot não sabe. Nem desconfia. Tenho que pensar como vou contar pra ela. Sou muito sincera, sabe? Gosto de deixas as coisas muito claras, já desde o início.



Concordei com tudo o que ouvi. Temos que admitir nossos erros. Assumo que andei descuidada com ela sim e comecei a reparação desde já. “Quando a gente gosta é claro que a gente cuida”, canta a Sandra de Sá.

Levei-a para um canto no Postinho, deixei-a no osso e comecei o banho. O povo de lá simpaticíssimo, até me fizeram companhia e ficaram jogando conversa fora comigo. Daiana estava preocupada com o meu esmalte, e me trouxe luvinhas! Mas não adiantou muito. Ao final do dia, não tinha uma unha que prestasse.

Prometi a Margot que no máximo semana que vem levo ela para fazer uma revisão. E limpar as relações, cheia de graxa velha, uma nojeira só. Hoje não daria tempo de uma limpeza mais completa.

O trabalho me esperava. Saindo do Alto, me lembro subitamente que hoje era dia de chegar mais cedo: almoço com o novo chefe. Fiquei aflita. Pedi a Margot que fosse o mais rápido possível pro Leblon, que caprichasse nas subidas. Algumas marchas mais leves não estão entrando.



E das descidas cuido eu. A Vista estava bem escorregadia. O almoço era às 11h e chego no Leblon às 10h52, encharcada, fedida e descabelada, com trajes pouco apropriados, digamos assim.

Um banho ‘expresso’ e às 11h04 já estou na sala, disfarçando o nervosismo e fingindo que está tudo bem: “Sim, vamos almoçar!”. Eu não achava por nada desse mundo meu molho de chaves, com as de casa, do escritório e da tranca da magrela. Além do meu chaveiro de bicicletinha vermelho...



Só sairia do trabalho às 20h e ia ter que correr atrás de um chaveiro 24h para conseguir entrar em casa. Além da bike presa na garagem do prédio onde fica o escritório. Como iria fazer para abrir a tranca?

Às 19h58 encontro as chaves, quando já estava saindo de lá. Findo o suplício, até lembrei que hoje fazia 4 meses, 2.600 km, muito suor, barro e lágrimas, que eu e Margot estamos juntas. Nesses 4 meses que parecem 4 anos é que virei mesmo ciclista. Foi façanha dela, da Margot.



E nesses 4 meses colecionei paisagens fantásticas, pessoas maravilhosas e sentimentos indescritíveis, tão grandes, mas tão grandes, que mal cabem no peito. E me sinto como se já fosse ciclista desde sempre, desde criancinha.

Para falar a verdade, acho que a ciclista dentro da Thais sempre existiu. Ou melhor, agora é que estou descobrindo quem é a Thais, dentro da ciclista. A Thais-ciclista que sabe cantar, rir e chorar sem parar de pedalar, sem desmontar e sem deixar cair o giro. Por que essa nova Thais não é uma mulher ‘normal’, comum.



É uma mulher que sempre tem uma manchinha de graxa na perna. É uma mulher que não anda mais com unhas pintadas. É uma mulher que não se importa mais com os respingos de lama, esgoto ou whatever. É uma mulher que tem um bronzeado estranho pelo corpo, com marcas de luva e capacete. È uma mulher que aprendeu a valorizar o que é essencial, distinguir o supérfluo e viajar apenas com uma pochete. É uma mulher que tem horário diferente das outras pessoas. É uma mulher que pensa em quilômetros. Essa sim, é a mulher de ciclos.

quinta-feira, janeiro 22

DIÁRIO DE BORDO: preparativos para Vassouras



Uma cicloviagem não começa só no dia. Tem início muito antes, alguns dias antes. Ontem, defini meu dilema: ir de bagageiro ou não, eis a questão.

Como somos um grupo pequeno, que pretende chegar lá ainda cedo para aproveitar o dia, vamos imprimir um ritmo mais puxado do que o das últimas cicloviagens.

Decidi ir de pneu slick, mesmo sem saber exatamente como é o caminho. E fiquei numa dúvida cruel se eu pegava um bagageiro e blocagem emprestados (o meu quebrou e não presta mais) para ir com o alforje ou se faço um esforço máximo de compactação para levar todas as minhas coisas na minha pochete.



Resolvi pela 2ª opção. Passei a noite ontem arrumando a magrela, mudando coisas e bolsinhas da bike de lugar, para caber mais coisas ainda. Regulei freios também, estão do jeitinho que gosto.



E fui dormir feliz. Hoje tem a 2ª parte da arrumação. Meus obejtos pessoais já vão ficar arrumados hoje. Amanhã a noite, chegar do trabalho e cama direto. Nada de arrumações nem revisões. Só dormir, por que o dia de viagem sempre começa cedo, muito cedo.

Mas ainda tem a chuva. Se ela continuar muito forte, como nos últimos dias, a viagem será abortada. Taurinos ODEIAM cancelamentos de última hora.

CICLISTA QUE É CICLISTA...



Ciclista que é ciclista tem mais caramanholas em casa do que copos.

Ciclista que é ciclista tem mais bermudas coladinhas com forro e camisas com bolsos traseiros no armário do que roupas 'normais'.

Ciclista que é ciclista o par de sapatos que mais usa tem taquinhos nas solas.

Ciclista que é ciclista ao andar à pé na rua aponta, mostra os buracos no asfalto, grita "carro!" e ainda faz sinal para virar à esquerda.

Ciclista que é ciclista quando sai para comer, procura por restaurante com mesinha na calçada (para parar a bike ao lado dele e ficar de olho nela).

Ciclista que é ciclista quando ouve alguém falando em viajar, pergunta imediatamente "quantos quilômetros até lá?" e fica calculando o tempo que levaria no pedal.

Ciclista que é ciclista tem um bronzeado estranho, principalmente nas mãos e rosto, que coincide com o formato das luvas, tiras do capacete e óculos.

Ciclista que é ciclista não acha nenhum tempo ruim pra pedalar. Ao contrário, com chuva, melhor ainda.

Ciclista que é ciclista tem síndrome de abstinência se ficar fora da bike por mais de dois dias.

Ciclista que é ciclista acha que está muito quente para ir à praia mas passa o dia pedalando sob sol escaldante.

Ou melhor, ciclista que é ciclista não vai à praia, só 'passa' pela praia.

Ciclista que é ciclista gasta mais dinheiro na bike do que no carro.

Ciclista que é ciclista tem mais quilometragem na bike do que no carro.

Ciclista que é ciclista tem bike que custa mais do que o carro.

Aliás, ciclista que é ciclista nem tem carro.

Ciclista que é ciclista fica mal humorado dentro de carro em dias quentes. E também em dias frios, chuvosos e com névoa.

Ciclista que é ciclista acha absolutamente normal acordar às 3h da manhã e sair às 4h para pedalar. E ainda acha que as pessoas normais têm que achar 'normal'.

Ciclista que é ciclista também acha absolutamente normal viajar de bike e pedalar na Av. Brasil.

Ciclista que é ciclista se escuta do namorado, namorada, marido, mulher, caso ou peguete "Se você for pedalar de novo, eu te deixo!" ou "Se você comprar mais uma bike nova eu te largo, hein?", pensa: "Hum, acho que vou sentir saudades dela(e)..."

terça-feira, janeiro 20

PEDAL DE FERIADO



Dizem que hoje é dia de um tal aí de Sebastião. Eu não sei não. Pra mim, dia 20 de janeiro é sempre dia de mammy. Todo ano, no mesmo dia, é sempre niver dela. Então o dia é mais dela do que dele.

Mas hoje não pude comemorar, vou desfalcar o almoço de família em churrascaria. Tenho que trabalhar, mesmo sendo feriado. Agruras de jornalista. Mas não me importo, não. Já matei as saudades dela no domingo. Ela me disse que gostou do presente, vai usar hoje. E desde que antes do trabalho eu aproveite o dia lindo que está lá fora, vou muito feliz, obrigada.

E como meus dias começam CEDO, MUITO CEDO, ou melhor, ainda de noite, isso não é difícil. Às 4h45 já estava de pé. A idéia era subir Paineiras, tomar duchão, comer pão de queijo com a Daiana no Alto, descer pela Vista Chinesa e tomar café (ou seria brunch?) no Parque Lage. E às 12h no Leblon, para mais um dia 'normal'.

Escolhi fazer o mesmo trajeto de sábado. Pela primeira vez, gostei de uma subida. Quem me conhece ciclisticamente sabe o quanto eu DETESTO subidas. Por isso estranhei a sensação que tive há dois dias atrás.



Não entendi o que houve. E quis repetir a dose hoje para ter certeza do que estava acontecendo: eu GOSTEI de subir. Como assim? Bem, não sei explicar. Mas foi isso mesmo que aconteceu.

Meus joelhos estão melhores e me empolguei, mal conseguia esperar o grupo. Decidi que vou subir lá pelo menos uma vez por semana. Bom pra treinar subidas mais longas e menos íngremes, para as viagens.

Hoje me deixaram comer pão de queijo no postinho e detonei logo dois. Lá, speedeiros de botinhas coloridas, combinando com as bikes e as roupas, borbotavam por todos os lados.

Chegando ao Parque Lage, a formação tripla de sempre. Pedimos ao guardinha pra entrar com as bikes, empurrando. Não é permitido pedalar lá dentro.



Ao chegar no casarão, surpresa: não podíamos entrar lá, pra tomar café (ou brunch?) no Café Du Lage. Punhados de casais entrando com carrinhos de bebês trambolhentos que ocupavam duas vezes mais espaço que nossas bikes, mas nós fomos barrados.

Quem diria, um parque público, que teoricamente deveria ser amigável e convidativo, simpático a transportes alternativos que não poluem, além de ser uma forma de atividade física, tão propícia ao local...

A administração do parque nos disse que deveríamos deixar as bikes no bicicletário, caso quiséssemos comer por lá. Mas esqueceu de nos avisar que o dito ‘bicicletário’ além de ser ao lado da entrada, facilmente acessível a qualquer um que passe na rua, está caindo aos pedaços, literalmente. Era só um amontoado de ferro velho retorcido com uma plaquinha gabola da Prefeitura do Rio.



Rumamos para o Cafeína, do Leblon. Mesinhas na calçada, bikes encostadas na árvore, sombrinha e a fresca da praia, pessoas bonitas e chiques e limpas e cheirosas que acabaram de acordar tomando seu café da manhã. E nós, depois de rodar alguns quilômetros, já suados, fedidos e descabelados (quem tem cabelo, digo), ali, nos esbaldando com guloseimas e sucos e cappuccinos.



Oh, que vida dura. Nem dá pra reclamar de ter que trabalhar no feriado, dá?

sábado, janeiro 17

PEDAL GASTRONÔMICO



Fui fazer minha primeira subida às Paineiras. Em geral, as temidas Paineiras são um dos primeiros desafios dos aspirantes à ciclistas, que só encaram quilometragens maiores depois de devorá-las.

Como não sou de seguir cartilha nem optar pelo usual, depois de 2.500 quilômetros em 3 meses pedalando 'de verdade' (com uma bike apropriada e alçando vôos maiores), resolvi que já era tempo.

Como de praxe, lá veio o frio na barriga. Só costumo DESCER pelas Paineiras, quando subo pela Vista Chinesa ou Canoas. E a descida me parecia longa. Muito longa. Se a descida, que gosto tanto, já parecia comprida, que dirá a subida: interminável, pensei.

Pra variar, os joelhos voltaram a me atormentar e a asma também resolveu dar sinal de vida, me dando um aperto e uma dorzinha no peito toda vez que faço um esforço maior, como nos aclives.

Éramos seis apenas. Os joelhos começaram a doer já na rua Alice e tive que optar por marchas levinhas. Já nas Paineiras, passei a subir com a mais leve de todas e aumentei o giro para forçar menos.

Parei perto da placa indicativa do Mirante Dona Marta para descansar um bocadinho. Seguimos. Apesar de eu não gostar de subir, sabe que eu gostei das Paineiras? Da subida, digo. Por que o duchão e o Crcuito das Paineiras são velhos conhecidos, apesar de só agora estarmos nos tornando mais 'íntimos'.

Mil vezes melhor e mais agradável subir por lá do que pela Vista. Apesar de que os treininhos pra Vista têm que continuar, ainda sou muito ruim em subidas.

Enquanto o povo seguiu pro Cristo, resolvi esperar por ali mesmo. Ia ficar admirando os visus e tomar duchão, enquanto isso. O último quilômetro da subida pro Cristo é bem íngreme e achei que seria sacrificar demais os joelhos.

Desta vez Mestre Gafanhoto não ficou frustrado. No meu cicloversário, acabei deletando a parte de ir dançar com os motoqueiros selvagens, mas hoje cruzamos com dezenas deles, já ali na Mesa do Imperador, selvagens, lindos, musculosos, com suas motos possantes, seus coletinhos de couro, tatuagens e dentes de ouro. Eu não estava ao seu lado, já que nas descidas vou desembestada, sempre à frente. Mas já imagino a carinha e os olhinhos dele de felicidade ao vê-los...

Depois da descida pela Vista, fomos almoçar ali na Pacheco Leão. Optamos pelo Da Graça, barzinho kitsch com luminárias-lixeiras que não agradaram muito a alguns de nossos amigos, e os estofados rosas das cadeiras os fizeram achar que se tratava de um point gay.



As morangas transbordando bobó de camarão fizeram a alegria dos barulhentos ciclistas, que já estavam quase como em casa, naquela calçadinha simpática em frente ao verde do Jardim Botânico: descalços, sapatos largados, descabelados, tomando cerveja gelada do baldinho cheio de gelo.

O calor tava infernal. E conforme iam passando mais ciclistas, crentes crentes que iam subir a Vista e se refrescar no duchão das Paineiras, eles iam sendo arrebatados por nós e juntavam-se ao grupo, que foi crescendo.



A tarde foi caindo com dores na barriga, não do bobó, mas sim de tanto rir. E o bobó deu o que falar: até no meu pé foi parar. Mas isso é uma história só para os que estavam lá.

quinta-feira, janeiro 15

'CICLOCINUCA' ou 'CICLOSSINUCA'?



Sinuca foi a bola da vez para comemorar meu 1° cicloversário. A idéia era ir à paisana dar umas tacadas. Mas conforme a noite foi passando, ciclistas que passavam 'paramentados' na porta do Boteco Taco, no Humaitá, eram recrutados aos gritos e voltavam para entrar e se juntar a nós.



Assim, parte do grupo que havia subido Paineiras à noite foi seqüestrada por nós e arrastada para a Cobal pra tomar vinho. Lá o taberneiro nos serviu 'mais vinho!' e pizzas vegetarianas.

A proposta de ir dançar na Far Up com os motoqueiros selvagens não se concretizou. Estava cansada. Foi dia de Pedal da Madruga e eu havia acordado às 4h. Os motoqueiros ficariam para outro dia. Por ora, vou me contentar com ciclistas mesmo. E com a 'pizza-instalação' de Mestre Gafanhoto. Daqui a pouco ele estará expondo no MAM...

MEU 1º CICLOVERSÁRIO



Primeiro pedal de speedeiro a gente nunca esquece. O Frejat me acordou hoje. Fui logo ver se chovia e um bebum de calça roxa perambulava, ria e gritava pela rua. Quando desci, ele ainda tava lá e quase me deu uma trombada.

Saí às 5h15 para cronometrar o trajeto até o final da Barra e ver se era viável para o próximo Pedal da Madruga, na semana que vem. Chega de subidas por ora. Cansei de só subir Vista no escuro. Quero outras paisagens.

O pedal não foi postado e fomos em um pequeno grupo. A idéia era pedalar na pista, de 'conchinha', só no vácuo. Fazer um minhocão a 30 km/h.

O esgotão da Niemeyer pra variar nos deu bom dia. Alexandre abalou o Vidigal! Era um tal de fiu-fiu pra lá, fiu-fiu pra cá. Deve ser culpa do shortinho que ele tava usando hoje.

Mas com o visual que tava surgindo à esquerda, do sol alaranjando as nuvens por cima daquele marzão todo, nem fiquei reparando em shortinhos não, ou como diria o Roger, nos quadríceps do Bip-bip.

No Joá, até ganhei um empu-hill, vê se pode? Bonzão, logo cedo! E na praia da Barra ficou bonito: todo mundo de 'conchinha', a 30km/h, furando aquela ventania toda. Mas ficamos assim por pouco tempo, por que eu e Paty não acompanhamos o ritmo dos meninos não.

Estávamos de volta ao Pontal do Leblon às 7h45. Trajeto aprovado e recomendado para o próximo Pedal da Madruga. Eu, particularmente, vou estender até a Prainha.

Na volta, ainda deu tempo de ir pra casa tirar um cochilo. Afinal, hoje é meu 1º cicloversário e tem sinuca mais tarde pra comemorar. Não é todo dia que se faz um ano de pedal, não é mesmo?



Há exatamente um ano teve início meu 'caso de amor'. Um dia posto aqui como foi que tudo começou. Mas esse dia não vai ser hoje.

Por ora prefiro relembrar como há mais de um ano, antes de começar a pensar em pedalar, eu já sonhava com o vento no rosto. Os sonhos era recorrentes, e neles eu sentia o vento, a velocidade e via as coisas ficando para trás. Não entendia o que era, o que significava, não imagina como eu poderia conseguir tudo aquilo nem muito menos que o esporte, que eu tanto detestava, fosse me dar essa grata surpresa.

E hoje o ciclismo é minha inspiração, me faz sempre ir além. Ganhei novos amigos. Ganhei auto-estima. Fiquei mais segura de mim. Ganhei mais saúde e me livrei das dores que me incomodavam tanto (ou substituí por outras?). Botei a mochila nas costas e conquistei a liberdade que sempre quis, por que liberdade concedida não me interessa.

Descobri lugares deslumbrantes, tão perto, mas antes tão distantes... E aprendi que as mais belas paisagens só são vistas sobre duas rodas.

terça-feira, janeiro 13

PEDAL DA ROSQUINHA-DE-PADARIA



Bateu aquela vontade de comer um docinho? Sem problema, podemos ir pedalando até lá.

sábado, janeiro 10

BARRA DO SANA: 1ª cicloviagem do ano (PARTE IV)



Meio mundo já sabe o quanto odeio meus Kendas. Mas bem que eles foram bacanas comigo na viagem. Um foi arriar apenas na frente da primeira pousada. O grupo estava dividido em duas, não havia vaga pra todos em uma apenas. O jeito foi largar a magrela nessa pousada mesmo, a operação arranca-Kenda ficou para o dia seguinte.



A prioridade era matar o que estava me matando: a fome. Os demais seguiram para a pousada na qual eu também ia ficar. Larguei a magrela e aproveitei pra dar uma alongada, comer um biscoito e xepar o banheiro para um banho na pousada que não era a minha. Pena. Essa tinha uma ilha no rio, com pontezinha de madeira e pneu amarrado dentro d’água pra tomar banho na corredeira.



Depois todos se encontrariam no único restaurante da “cidade” para a primeira e única refeição do dia. E fiquei sabendo que não sabiam que eu tinha ficado por lá, na pousada que não me pertencia, pra guardar a bike e me procuraram por todo o lugar. Tantos quilômetros rodados e fomos nos desencontrar num lugar que era menor do que um pentelho.

O garçom-que-passava-fome teve dificuldade em anotar nossos pedidos. Éramos muitos, éramos barulhentos, éramos ciclistas. A comida chegou em pequenas prestações iguais as das casas Bahia, mas estava maravilhosa. Com o melhor tempero do mundo, a fome. E para acompanhar um Concha y Toro que desceu redondinho.



Comi dois pratos “modestos” de uma pseudo-picanha-mais-para-contra-filé, farofa, molho à campanha, arroz e batata-frita. Depois, cama, ou melhor, meia-cama. O resto era da rosquinha. E dormi leve igual um bebê, pesado igual uma pedra. Como pode? Não sei, coisas do Sana.

BARRA DO SANA: 1ª cicloviagem do ano (PARTE III)



Brados marcaram o início da RJ-142. Mestre Gafanhoto agradecia ao Universo. O que perdemos em acostamento ganhamos em visual e aromas. Logo a serrinha se mostrou e começamos a subir. Depois de algumas subidas, um descidão espetacular. Poucas vezes fiz descida tão deliciosa.



Paramos logo depois dela. Para reagrupar? Não necessariamente. Era impossível continuar com a vista que se impunha. O rio se mostrava à direita, preguiçoso, caudaloso, com pedras. Lindo demais. Ficamos só observando.



Mais subidas, pouco íngremes, mas a essa altura, já tínhamos mais de 150 km de pedal. Corpo cansado, exaurido do calor e faminto. E eis que surge uma subida enjoada. Decidimos parar e no finalzinho dela, já que ia parar mesmo, desci da magrela onde estava e empurrei o resto até a birosca. Que tinha um duchão de cano revigorante. Mas o melhor ainda estava por vir: mais no alto, no topo de uma escada feiosa, escondia-se uma piscina que o dono liberou pra gente usar.



Correria. Eu e rosquinha-de-padaria subimos correndo os degraus, ensandecidas, para apenas sentar na beira da água e bater pezinhos. Ficamos ali nos acostumando com a água gelada enquanto os demais ciclistas selvagens pulavam na piscina, num festival sem fim de barrigadas. Teve quem entrou do jeito que estava, de capacete e sapatilha. Claro, ciclista bom é ciclista até debaixo d’água.

Ali tivemos momento de forró e de lambada. Baixou um caboclo Beto Barbosa em um de nossos companheiros. A outra, arrastando pé, dançando xaxado, tal qual uma rosquinha-do-agreste.

Seguimos subindo. A noite caiu e fomos todos bem juntinhos, de conchinha, na beira da estrada sem acostamento. Todos acesinhos, literalmente. Logo na primeira curva, lá estava ela, vindo nos saudar: a Lua, enorme, majestosa, no meio daquele breu. Não resistimos. Gritamos, pulamos, nos emocionamos e agradecemos novamente por estarmos ali juntos.



Logo chegou a entrada do Sana. Ali começava a estradinha de terra, esburacada, com cascalho e bem traiçoeira. Não havia iluminação. Nosso Mr. Magoo não levou seu cão-guia, que tal qual o Alfredinho, tem medo de águas bravias. Fui ao seu lado, fazendo a escolta. Dois faróis iluminam melhor que um, certo?



Um carro passou por nós e nos saudou: “Aê, galera do Rio!”. Pelo visto Sana é mesmo muito grande. A notícia de que viríamos pedalando do Rio já havia corrido a “cidade” inteira.

Mais à frente, um grito. E um pisca se apaga. Era Rê. Quase foi atropelada por um cavalo desgovernado, de um cavaleiro bebum que havia caído logo à sua frente. Ele subiu no pobre animal e partiu. Nada sério, só pancada. Seguimos adiante. E começaram os paralelepípedos, sinal de que finalmente havíamos chegado a Barra do Sana.

QUEM É A MULHER DE CICLOS?

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