sábado, março 21

PIRAÍ x VASSOURAS: Via Cinco Lagos



Gabiru nos convenceu a ir até Piraí de busão, para fazer o trajeto Piraí – Vassouras por estradinhas de terra vicinais, passando por Mendes e principalmente, por Cinco Lagos, terra que era para ter cinco mas não tem nem um lago sequer.

Desta vez fomos longe, bem mais longe do que nas tentativas anteriores. Na primeira em Janeiro, nem saímos de casa. Na segunda, em Fevereiro, chegamos apenas na Leopoldina. A ida a Vassouras tinha ficado mal resolvida, portanto. Agora em Março seria preciso chegar de qualquer jeito.

Uma conjunção de fatores conspirou para que apenas nós três, nossa costumeira ‘configuração ímpar’, fôssemos neste pedal: eu, Letrado e Gafanhoto.



O motorista do busão estava mal humorado. Pudera. Era 5h40 da manhã e o ônibus já saía da Rodoviária Novo Rio, apenas conosco e mais uns poucos gatos pingados, que não puderam dormir.



Gafanhoto estava especialmente ouriçado: tocou o rebu no ônibus, estava ansioso para pedalar. No Terminal Rodoviário de Piraí, pães de queijo com gosto de queijo, vejam só que coisa. E o dia amanhecia friozinho.



Partimos. Um pouco de asfalto com um rio ladeando a estrada, não sei se o Rio Piraí ou o Rio Paraíba do Sul. Ninguém sabe, nem o mapa. Gafanhoto estava tão feliz - depois de tanto tempo retornar a Cinco Lagos - que nem se lembrava de nós. Disparou, e ficamos lá para trás. Ia fazendo zigue-zague, saltitando pela estrada.



Eu não estava lá grande coisa. Quando comecei a pedalar tive a impressão que a bike pesava muito mais que o normal, que as pernas não obedeciam muito aos meus comandos. Passei a semana com muito sono, muita moleza e na sexta à noite comecei a espirrar. Um resfriado batia à porta.

Logo pegamos a estradinha de terra. Na parada em um riacho para fotos, um senhor que veio conosco no busão passa a pé e nos saúda. Levava um pedaço de pau enorme na mão, e disse que anda tendo ‘bicho grande’ por ali.

Mais à frente, realmente encontrei dois ‘bichos grandes’: duas vacas com um bezerrinho bloqueavam a estrada. Quando me viram, se voltaram em minha direção e ficaram arrastando a pata, tal qual touro em tourada.

É ruim de eu passar no meio daquelas vacas sozinha. Voltei para encontrar Gafanhoto e Letrado, que vinham mais atrás. Com alguns gritos, espantaram os ‘bichos’ e passaram batido. Eu fazia a volta e enquanto passava, tomei uma carreira de uma das vacas, que começou a correr atrás de mim. Já levei pega de cão, mas de boi foi a primeira vez.



Muitas bifurcações. Dúvidas quanto ao caminho, mas pergunta daqui, pergunta dali, e tudo resolvido. Por ora, claro. Letrado havia feito apenas um trecho do percurso. Mas como todos os caminhos levam a Vassouras (desde que sejam caminhos para Vassouras), fomos em frente.





Em Mendes, paramos para ver o trem: cruzamos a linha e fizemos uma pequena ‘sessão de fotos’. E lá vieram eles. Logo dois, um em cada direção. Barulhentos e enoooooooooormes.



Eu estava um pouco aborrecida: pedalava me arrastando, pesada, molengona, o resfriado veio que veio e estava me derrubando. No centro de Mendes, pausa para um lanche reforçado, um suco de laranja com 16 laranjas e para comprar remédios de gripe: éramos dois gripados no grupo.



Mas foi só conhecer Dona Guiomar que o resfriado foi embora. O astral daquela casa e daquela senhora contagia qualquer um. Contagia muito mais que gripe. Antes, passamos pelos AKI’s: aki ki nóis bebe, aki ki nóis dança e aki ki nóis reza.

No caminho, cada rua, cada ladeira e cada esquina evocam lembranças: “aqui eu descia batido com o carro, essa ladeira era de terra e escorregava, aqui eu tomava cachaça toda vez que vinha comprar carvão para o churrasco, cadê as árvores, isso tudo eram bosques, asfaltaram a estradinha”.



Em Cinco Lagos, Gafanhoto reconhece sua esquina, mas sem a árvore frondosa que outrora a demarcava. Subimos a ruazinha e vimos ‘ela’, por quem os elos dobram: A Casa. Parte da infância e adolescência de Gafanhoto ficou ali, esquecida naquele canto bucólico, escondida pela enorme cerca viva de Dona Guiomar.

Aquela jovem senhora, de seus oitenta e tantos anos, ao nos ver do lado de fora, espiando a casa e ouvindo um frenético Gafanhoto contar “aqui era cheio de flores, papai queria fazer uma piscina, esse muro de arrimo deu um trabalhão, vocês nem imaginam”, fez questão que entrássemos.

Pediu a Gafanhoto que nos mostrasse a casa: “ora, você já conhece tudo, mostra a casa para seus amigos, vai”. E ficou encantada com os ciclistas: as bikes, as roupas, o colorido, as histórias. A cada grito de euforia, ela dava gritinhos, respondendo. Uma saudade viva tomou conta da casa, de Dona Guiomar, de todos nós.

Falamos para Dona Guiomar que ela não tinha idéia do bem que estava nos fazendo, do quanto era importante para nós aquela visita, o que significava nossa viagem. Mas estávamos errados: ela sabia sim, ela entendeu tudo. É aquela sabedoria que só teremos quando chegarmos à idade dela.

Partimos mas deixamos lá um pedacinho do nosso mundo, com Dona Guiomar, seu cãozinho desgrenhado e seus ‘velhinhos’ de resina. A partir de Jabuticabeira e Cinco Lagos, o pedal se tornaria exploratório.



Começamos a encontrar pelo caminho as marcas de cal. Sinalizações já para o dia seguinte, o Bike Tour 2009. A estrada foi ficando mais bonita, um trecho ladeado por bosques, parecia saído de livro infantil. Mas já estava acabando: logo logo chegaríamos a estrada principal para entrar em Vassouras, e rumar para o Mara Palace Hotel, o ‘nosso lugar’.



Em Vassouras, os ‘nossos iguais’ já haviam chegado fazia tempo, e passeavam enquanto esperavam por nós. Cicloturistas do Rio foram em peso para Vassouras. Era espirrar e ver algum rosto conhecido.

Pedal com cerca de 90 km no total. Tudo tem seu tempo: não era para ter sido em Janeiro, muito menos em Fevereiro, tinha que ser Março. De resto, era tomar um banho, comer e descansar para a gripe ir embora. No dia seguinte faríamos a prova, o Bike Tour 2009, na categoria Cicloturismo: 50 km em trilhas que prometia ser desafiador para nós, bichos acostumados com asfalto.

Um comentário:

  1. Fiquei feliz ao saber que deu tudo certo! Precisando de mais dicas de roteiro é só mandar email! Essa região é muito interessante e existem diversas trilhas e caminho bacanas para pedalar.

    Abraços,
    Fábio

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